Ford Landau. Ele foi o preferido de presidentes, políticos e empresários de sucesso nos anos 60, 70 e 80.
Ícone de uma era, o Ford Landau, uma versão de luxo do Galaxie, foi uma tentativa da marca americana de oferecer um produto acima de média no mercado de automóveis e o resultado deu muito certo.
Isso se verificou nas 77.850 (algumas fontes falam em 77.670) unidades produzidas no país entre 1967 e 1980, incluindo os modelos Landau, Galaxie 500 e LTD.
Veja também: Ford Del Rey, o mini sucessor do Landau
Landau
Com 5,413 m de comprimento, 1,999 m de largura, 1,412 m de altura e 3,020 m de entre-eixos, o Ford Landau tinha 400 litros no porta-malas e seu tanque tinha apenas 76 litros de gasolina. Tão grande, ele até que era leve, pois pesava pouco menos de 1,8 mil kg.
Dotado de um enorme V8 5.0 Windsor, o sedã tinha 199 cavalos a 4.600 rpm e 39,8 kgfm a 2.400 rpm.
Equipado com transmissão automática de três marchas e conversor de torque, o Ford Landau não tinha um desempenho espetacular para seu porte e potência, fazendo de 0 a 100 km/h em demorados 15,3 segundos e com máxima de 155 km/h.
No caso do manual de três marchas, ele fazia o mesmo em 13 segundos e 165 km/h de final.
E foi assim que o Ford Landau apareceu no começo de 1976 para “suceder” o Galaxie 500. Diferentemente do primeiro, o “novo” sedã tinha a frente com quatro faróis circulares posicionados na horizontal, estando assim de acordo com o que se via nos EUA.
Não houve alterações em portas, teto, colunas ou vidros, exceto no acabamento dos limpadores de para-brisa, que deixaram de ser cromados.
Na traseira do Landau, porém, as mudanças eram muito maiores. Saíam as lanternas quadradas e compactas, entrando no Landau um conjunto triplo na horizontal, que obrigou o redesenho da tampa do porta-malas e a redução do vão de acesso ao mesmo.
Ao centro, um aplique metálico com o nome Ford e a mira do produto.
O para-choque do Landau também era devidamente cromado e tinha duas barras de proteção verticais, assim como duas luzes de ré. O escape ficava oculto para preservar as linhas elegantes do Ford.
O vidro traseiro do Landau era pequeno e formava com o teto de vinil preto, um visual mais reservado, íntimo para quem preferia a discrição.
Isso se dava por um simples motivo, o Landau era a versão topo de linha e por isso tinha de ser o melhor no visual e no conforto, além de ser vendido apenas na cor prata em 1976.
O para-brisa cromado chamava atenção, assim como as rodas aro 15 de aço com tala de 5 polegadas vinham com calotas cromadas e raiadas, inspiradas na Lincoln.
Elas podiam ser mais largas para ampliar a segurança e o conforto. Os pneus 215/70 R15 eram diagonais. Havia uma barra preta na parte inferior do Landau que ampliava sua imponência.
O interior do Landau era revestido em veludo vermelho e Jacquard inglês, uma distinção em relação aos Galaxie e LTD.
Os bancos do Landau eram inteiriços na frente e atrás, enquanto as portas e outras partes do acabamento era ricamente bem cuidados e decorados pela Ford, que sempre se esmerava em tornar o ambiente do sedã mais aconchegante.
O painel era o mesmo de antes da atualização, bem sóbrio agora, tendo detalhes escuros, mas preservando o velocímetro horizontal, assim como o sistema de rádio, os controles cromados do ar-condicionado e o relógio analógico no painel.
O volante clássico de dois raios com buzina em forma de meia lua era elegante.
Os difusores na parte inferior os detalhes em madeira davam ao ambiente mais requinte.
Além do Landau: Galaxie e LTD
Apesar do Landau ser a versão topo de linha e ser diferente em relação aos demais, cabe uma ressalva importante. Todos eram o mesmo carro, com diferenças no acabamento.
O Galaxie era mais facilmente identificável, pois os frisos da grade eram verticais e o vidro traseiro era maior, além disso, não havia teto em vinil.
Este também tinha pneus diagonais ao invés de radiais, quando estes chegaram ao Landau.
Já o LTD, intermediário, tinha a mesma grade do Landau, mas com o vinil no teto nas cores Areia, Marrom ou Preto. Em 1977, o topo de linha ganhou teto de vinil preto, enquanto o prata virou opcional.
O topo de linha passava a ser vendido apenas na cor Prata Continental com o teto de vinil em tom semelhante. O ar-condicionado passou a ser integrado ao painel. Os pneus ganharam banda branca e o modelo ganhou opção de tala larga com 6 polegadas.
No motor, o V8 302 recebeu ignição eletrônica, eliminando condensador e platinado anteriores. A chamada Série II, no mesmo ano, mas como linha 1979, trouxe mais opções de cores e novidades em termos de conforto e segurança.
Ambos ganharam um novo volante de quatro raios, que parecia moderno demais para o sedã luxuoso. O banco dianteiro ganhou cintos de segurança retráteis (2).
O Landau ganhou para-brisa laminado com limpadores intermitentes, assim como pneus radiais e faróis de iodo. Por fim, novos amortecedores e a cor Cinza Executivo Metálico, exclusivo do topo de linha.
Landau a álcool, o primeiro (ou segundo) do mundo
O Landau perdeu alguns cromados no interior e também o acabamento em Jacquard, passando a ser apenas em veludo, com opção de cor cinza.
No ano seguinte, o sedã se torna o primeiro carro do mundo movido à álcool (embora alguns digam que foi o Fiat 147, no mesmo ano) e o primeiro exemplar é entregue ao então General João Figueiredo para ser o carro oficial da presidência.
Nesse ano de 1979, a Ford comemorava 60 anos de Brasil e por isso o Landau não escapou de ganhar uma série especial com 300 unidades, chamada Landau SE (Série Especial) e pintada exclusivamente na cor Vermelho Scala.
No motor 302 do Landau, o ventilador do radiador passou a ter embreagem hidrodinâmica para acionamento automático e independente do motor, garantindo assim que o mesmo pudesse ser resfriado mesmo desligado ou apenas em situações que realmente o exigiam, ajudando-o a aquecer mais rápido.
No final, ampliava a eficiência e potência, pois acrescentava uns 10 cavalos a mais em alta velocidade, quando o ventilador parava de funcionar e o ar entrava mais livremente. O radiador também cresceu em tamanho.
Outra mudança mecânica no Landau foi a adoção de carburador duplo para melhorar o consumo em baixa rotação, finalizando com um tanque maior, com 107 litros, um benefício para o uso do álcool.
O câmbio automático foi trocado e tinha um conversor de torque maior.
Na linha 1980, a Ford eliminou o Galaxie (opção mais barata) da gama de versões, restando assim apenas LTD e o Landau. Fez o mesmo com o câmbio manual. A despedida foi com grade pintada em preto brilhante.
A cor Azul Clássico (até então exclusiva da diretoria da Ford) se tornou padrão no Landau, que ainda passou a dispor de fato da versão à álcool a partir de abril de 1980.
Este tinha motor 302 com coletor de admissão em alumínio por causa do álcool, assim como a bomba de combustível, fazendo 4 km/l, mas indo até 167 km/h.
Os retrovisores passam a ter comando interno e as luzes de posição na traseira ganham iluminação integrada às lanternas.
O escape duplo foi adicionado ao carro, ficando assim mais silencioso. O LTD perdeu frisos cromados e borrachas protetores nos para-choques.
O acabamento interno ganhou novo revestimento nas portas e bancos, que passaram a ser mais anatômicos, enquanto a paleta de cores aumentou com as opções: Azul Clássico, Preto Bali, Branco Nevaska II, Cinza Granito e Verde Astor.
O porta-malas do Landau ganhou abertura elétrica. Um exemplar especial foi feito e batizado de Landau-Papamóvel para visita do Papa João Paulo II ao Brasil.
Fim de uma era
As vendas do Landau já não iam bem há algum tempo. Embora nunca fosse campeão em emplacamentos, o sedã de luxo da Ford vinha de altos e baixos após o clássico Galaxie 500.
O motivo era que no final dos anos 60 não havia a mesma concorrência que no final dos anos 70.
Carros como Dodge Magnum e LeBaron, além do Opala Comodoro, que recebeu o Diplomata em 1980, fizeram com que o Landau tivesse expressiva queda de pouco mais de 5 mil vendidos em 1979 para menos de 3 mil no ano seguinte.
Para piorar as coisas para o Landau, a Ford lançou ainda o Del Rey em 1981, um sedã muito menor, mas que tinha opção de duas portas e trazia “luxos” que o famoso sedã nunca ofereceu, tais como vidros, retrovisores e travas elétricas. Isso sem contar que o modelo novo mantinha o padrão de acabamento da marca e vinha com um motor mais econômico, embora fraco.
O Del Rey foi a saída da Ford para o fim esperado do Landau e deu certo, visto que mais de 20 mil venderam em 1981 contra pouco menos de 1,6 mil do clássico dos anos 60.
O LTD nessa brincadeira, acabou saindo de linha. O obituário do luxuoso topo de linha já estava sendo escrito. O LTD, antes de sair, ainda foi vendido na cor Verde Gramado.
Mudanças na grade e no para-choque (com abertura na parte superior) foram introduzidas na linha 1981.
As luzes de ré saíram do para-choque e foram para as lanternas triplas, enquanto o protetor voltava a ser o mesmo da linha até 1970 do Galaxie 500.
Uma régua cinza emoldurou as lanternas, sendo esse detalhe chamado de “traseira branca”. Os cintos de segurança agora eram de três pontos na frente e retráteis, com mecanismo preso às colunas B. O interior passou a ser apenas azul.
Na mecânica, o Landau 81 recebeu nova barra estabilizadora traseira, freios com discos e pastilhas maiores e calibragem diferenciada em molas e amortecedores.
Nota-se que o sedã da Ford continuava a receber melhoramentos. A ideia parecia ser uma última tentativa de fazer o Landau sobreviver por mais algum tempo.
Em 1982, ano de Copa do Mundo e Guerra das Falklands, o Landau travava sua última batalha para manter-se vivo.
O topo de linha da Ford – já sem o LTD – era oferecido apenas nas cores Cinza Granito, Azul Jamaica e Verde Astor. Em 1983, a montadora produziu o último exemplar do sedã.
Com estoque garantido de 125 carros, o Landau 83 vinha com rodas dotadas de calotas rosqueadas, a última inovação de um sedã que sempre esteve em atualização, desde tempos imemoriais. Em 1982, as vendas caíram para menos de 1,2 mil unidades.
Do último lote, um exemplar foi para a presidência da República, ficando na frota oficial até 1991. As vendas se encerraram oficial em 3 de abril de 1983. Foram vendidos 93 exemplares a gasolina e 32 a álcool nesse último ano/modelo.
Com o fim do Landau em 1983, a Ford deixou de oferecer carros de porte grande e grande potência, pois o Del Rey não passava de 73 cavalos em seu diminuto e fraco motor CHT 1.6 de origem Renault, como o resto do carro também, após herança do Corcel I, um parente brasileiro do francês Renault 12.
Ficou do Landau, a imagem de luxo que marcou uma época inesquecível no Brasil.
Acesse o nosso exclusivo Canal do Telegram!
Os comentários estão encerrado.