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Ford Del Rey (1981-1991): o mini sucessor do Landau

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O Ford Del Rey nasceu em 1981 para uma missão quase impossível, substituir o icônico Ford Landau, que sairia de linha exatamente em 3 de abril de 1983, na fábrica do Ipiranga, em São Paulo.

Derivado de um projeto que nasceu na francesa Renault e adaptado para a realidade da Ford brasileira, o Del Rey pode até ser crucificado pela missão atribuída, mas ele só refletiu o que existiu nos EUA.

Na mesma época, os grandes V8 estavam morrendo em carros médios americanos e substituídos por produtos menores, mais leves e com motores pequenos, geralmente de tração dianteira.

Então, foi exatamente isso o que aconteceu no Brasil com a chegada do Del Rey, que também originou a perua Scala, uma variante mais luxuosa da Ford Belina, derivada do Ford Corcel II.

Bem americanizado, o Del Rey se apoiou neste último para compartilhar a plataforma e usar o diminuto motor CHT 1.6, outro produto de origem Renault.

Ford Del Rey – detalhes

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Tendo 4,498 m de comprimento, o Del Rey dispunha ainda de 1,676 m de largura, 1,345 m de altura e apenas 2,438 m de entre eixos, muito curto para um carro de seu porte, mas aceitável para a época.

Pesando pouco mais de uma tonelada, o novo sedã da Ford era muito mais leve o que o Landau, assim como era bem menor que o suntuoso sedã dos políticos da ocasião.

Isso se traduzia em um carro mais ágil para o dia a dia, especialmente em economia, com apenas dois anos da última Crise do Petróleo, que obrigou as montadoras a acabar com os “dinossauros” V8.

Tão certo foi que, morreram Landau, Dodge Charger, Dart e Ford Maverick por volta dessa época e carros menores e mais leves se davam melhor com a já não novidade, o álcool.

O Del Rey imediatamente pegou o motor 1.6 (ainda não era o CHT) e bebeu da cana do interior paulista, entregando 69 cavalos a 4.800 rpm e 12,4 kgfm a 2.800 rpm.

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Com câmbio de cinco marchas — aquele que não se tira com o eixo piloto… — o Del Rey tinha desempenho pífio, indo de 0 a 100 km/h em 21,6 segundos eternos e 139 km/h.

O baixo desempenho o acompanharia do berço até 1989, quando o sedã executivo da Ford se beneficiou grandemente da Autolatina, ganhando o motor AP 1.8 com 87 cavalos na gasolina e 14,3 kgfm de torque.

A Ford nunca utilizou nele, por exemplo, o motor CHT Fórmula, o 1.6 do Ford Escort XR3, que tinha em seu melhor ano, 86 cavalos com etanol (número da época).

Todavia, o sedã de bom acabamento em tecido de qualidade, vidros elétricos nas quatro portas de série (o primeiro nacional), direção hidráulica, ar condicionado, retrovisores elétricos e vidros verdes, ganhou um conforto a mais.

Em que ano foi lançado o Ford Del Rey? Em 1981. Logo depois, em 1983, o Del Rey recebeu transmissão automática de três marchas, oriunda da Renault, importada, pois era a única que cabia no sedã da Ford.

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Com painel tendo cluster analógico bem completo, volante de dois raios agradável, relógio digital no teto com data e luzes de cortesia, o Del Rey proporcionava uma viagem calma e agradável.

O espaço atrás não era dos melhores, mas os bancos confortáveis compensavam a deficiência do projeto, que ainda entregava um porta-malas mediano, com 343 litros.

Nele, aliás, o bocal do combustível ficava atrás da placa e o estepe era em pé, mas a abertura elétrica e o fechamento permitiam apenas tocar a tampa para travá-la, diferente de outros que precisavam bater…

A suspensão macia do Del Rey era um tributo aos carrões da década anterior, garantindo assim mais conforto aos exigentes e uma experiência mais “americana” que os alemães da VW ou os italianos da Fiat.

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No ano de 1985, o Del Rey ganhou uma repaginação na frente, deixando-o com linhas mais fluidas e já sem as tais versões básica (“Prata” foi invenção do povo) e Ouro. Esse visual ficaria até o fim da vida do modelo, em 1991.

A versão mais desejada e pouco alcançada por quem podia ter carro zero km desse porte naquela época, foi a Ghia, que trazia o escudo do estúdio italiano, o mesmo da Karmann-Ghia, mas de propriedade da Ford.

Mais bonito, ainda que o original tenha seu brilho com as rodas de liga leve que perdeu para simples rodas aro 14 de aço com calotas metálicas, o Del Rey seguiu seu curso até 1987, quando recebeu uma nova versão do câmbio automático francês com gerenciamento eletrônico.

O motor CHT 1.6 conseguia com etanol, pouco mais de 73 cavalos na época e isso era o que o sedã podia oferecer com a perua Belina ao lado, uma vez que a Scala morrera anos antes.

Limitado pelo motor, pelo menos os números baixaram e o consumo melhorou, até mesmo com o câmbio automático, mas sempre usando etanol nessa época, ainda que as versões a gasolina existissem raramente.

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Com freios a disco ventilados na frente, quando muitos ainda usavam discos sólidos, o Del Rey era simplesmente um luxo, com luzes de leitura e para-brisa degradê.

Sem o Corcel II, que morrera no “ano das perdas”, ou seja, 1986, o Del Rey desceu até o chão com versões L e GL, tendo ainda a GLX.

Contudo, apenas a Ghia tinha tudo e a opção de câmbio automático, assim como um dia fora do Del Rey Ouro, designação que combinava mais com a cidade que lhe emprestou parte do nome, nas Minas Gerais.

Então, em 1989, o Del Rey foi agraciado com a coroa da performance, recebendo o motor AP 1.8 da VW, considerado até hoje, o melhor motor já feito aqui.

Imediatamente o sedã da Ford passou a andar como gente grande, medindo forças com VW Santana 1.8 e Chevrolet Monza 1.8, porém, seu tempo havia acabado e ele já estava fazendo hora extra.

A Ford até que tentou criar um sucessor doméstico para assumir seu posto, porém, desistiu do intento e assimilou o Santana, criando assim o desinteressante Ford Versailles.

Assim, após uma década, o Del Rey deixou as linhas de Taboão em 1991 com a perua Belina, sem nunca ter tido, por exemplo, tração nas quatro rodas como a Ford Pampa.

Ford Del Rey – versões

Ford Del Rey Belina Ford Del Rey 2 door 2

  • Ford Del Rey 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey 1.6 4 portas
  • Ford Del Rey Ouro 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey Ouro 1.6 4 portas
  • Ford Del Rey Ouro 1.6 automático 2 portas
  • Ford Del Rey Ouro 1.6 automático 4 portas
  • Ford Del Rey L 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey L 1.6 4 portas
  • Ford Del Rey GL 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey GL 1.8 2 portas
  • Ford Del Rey GLX 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.6 2 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.6 4 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.6 automático 2 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.6 automático 4 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.8 2 portas
  • Ford Del Rey Ghia 1.8 4 portas

Ford Del Rey – equipamentos

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Ford Del Rey L – Motor 1.6 e câmbio manual de cinco marchas, mais rodas de aço aro 13 polegadas com pneus 185/70 R13, calotas integrais, para-choques pretos, retrovisores pretos, vidros manuais e travas manuais.

Retrovisores externos sem controle interno, bancos em tecido, portas com revestimento em tecido, trava de segurança nas portas traseira, vidros traseiros basculantes, limpador com duas velocidades e lavador.

Ventilador com três velocidades, volante de dois raios, buzina na haste, direção de assistência mecânica, freios dianteiros com discos ventilados, alças no teto, para-sois com porta-documento e bancos dianteiros com encostos rebatíveis.

Retrovisor externo do lado esquerdo, porta-malas com abertura pela chave, pré-instalação para som, porta-luvas com chave, cinzeiro, extintor de incêndio e revestimento em carpete.

Ford Del Rey GL – Itens acima, mais motor 1.6 ou 1.8 litro, vidros verdes, vidro térmico traseiro, para-brisa degradê, relógio, ar quente, retrovisor externo do lado direito, retrovisores externos com controle interno e retrovisor interno dia e noite.

Rádio AM-FM, alto-falantes, antena manual, frisos cromados nos para-choques e acendedor de cigarros.

Ford Del Rey GLX – Itens acima, mais direção hidráulica, ar condicionado (opcional), vidros elétricos dianteiros e traseiros, travamento central elétrico, rádio toca-fitas, antena elétrica, frisos cromados, rodas aro 14 polegadas e pneus 195/60 R14.

Painel com conta-giros, relógio digital, porta-malas revestido em tecido e padronagem melhor do acabamento.

Ford Del Rey Ghia/Ouro – Itens acima, mais câmbio automático (opcional), ar condicionado (opcional), faróis de neblina, rodas de liga leve ou aço com calotas, abertura elétrica do porta-malas, voltímetro, manômetro do óleo, retrovisores externos com controle elétrico e lavador de faróis (Ouro).

Banco traseiro com apoios de cabeça e apoio de braço central, acabamento em veludo e opção de transmissão automática de três marchas com conversor de torque.

Ford Del Rey – motor

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Derivado deste último, o Del Rey herdou o Cléon-Fonte 1.6 de origem Renault, com seu bloco de ferro fundido, onde ficava também o comando de válvulas, a engrenagem do distribuidor e a bomba de óleo.

O comando do bloco era acionado por corrente lubrificada, que exigia a troca do kit em certo tempo, acionando ele varetas até as válvulas no cabeçote de alumínio, por meio de balancins.

A câmara de combustão tinha baixo turbilhonamento e as entradas de admissão e saída de escape, ficavam no mesmo lado, com coletores sobrepostos, sendo o de escape de ferro.

Alimentado por carburador de corpo duplo e injetor elétrico de gasolina para partida a frio com álcool, o 1.6 Cléon-Fonte acionava a ventoinha do radiador diretamente.

Em 1983, a Ford fez melhorias no francês, rebatizando-o de CHT ou High Turbulence Combustion ou Compound High Turbulence.

Com isso, a potência com álcool passou de 69 cavalos a 4.800 rpm para 73,3 cavalos a 4.800 rpm, enquanto o torque passou de 12,4 kgfm a 2.800 rpm para 12,8 kgfm a 2.400 rpm.

A mudança para CHT propiciou a chegada da transmissão automática de três marchas com conversor de torque, também de origem Renault.

Em 1987, o CHT E-Max recebeu melhoramentos e o propulsor de 1.555 cm³ ficou mais econômico, sem mudanças em potência e torque.

Assim, o Del Rey chegou a ganha prêmio de economia, tendo consumo na estrada de até 17,1 km/l de gasolina.

Na mesma época, o câmbio automático recebeu assistência eletrônica, tornando o sedã da Ford mais moderno.

Já em 1989, como modelo 1990, o Del Rey ganhou o motor VW EA827 na versão AP-1800.

Esse propulsor de origem Audi a terceira evolução do motor que chegou no Passat, tendo 1.781 cm³ e comando de válvulas no cabeçote, tendo duas por pistão, como no CHT.

Substituindo o CHT, o AP 1.8 era bem mais moderno, ainda que originalmente o projeto também fosse dos anos 60.

Ele entregava 87 cavalos a 5.200 rpm e 14,3 kgfm a 3.000 rpm, sendo oferecido com transmissão manual de cinco marchas.

Ford Del Rey – desempenho e consumo

O Del Rey tinha desempenho fraco desde o início, com aceleração de 0 a 100 km/h em 21,6 segundos e com final de 139 km/h.

Já com o CHT, o sedã fazia o mesmo em 18,2 segundos no manual e 18,5 segundos no automático, com finais de 148 e 142 km/h, respectivamente.

No caso do 1.8, ele precisava de 13,9 segundos e tinha final de 156 km/h.

Em consumo, o 1.6 original fazia 6,5 km/l na cidade e 10 km/l na estrada, com etanol. Já o CHT tinha consumo de 6,7/8,1 km/l na cidade e 9,0/11,2 km/l na estrada, respectivamente e com álcool.

Por fim, o Del Rey 1.8 fazia 9,2 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada, ambos com gasolina.

Ford Del Rey – fotos

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Autor: Ricardo de Oliveira

Técnico mecânico, formado há 27 anos. Há 16 anos trabalha como jornalista no PG jogos, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X

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